A diretoria do Sindiserviços-DF, sindicato que representa as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados no Distrito Federal (DF), participaram ativamente do ato e marcha para denunciar a ausência de políticas públicas e o aumento da violência contra as mulheres, nesse domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Durante a manifestação, as representantes da categoria se uniram com a deputada federal Erika Kokay e o deputada distrital Chico Vigilante (PT/DF) para ampliar e fortalecer à conscientização das trabalhadoras e dos trabalhadores terceirizados no DF, para o constante combate aos casos de constrangimentos, assedio moral e sexual, agressões físicas, psicológicas, feminicídios e, que muitas das vezes, estão ocorrendo nos locais de trabalho e residencias, por pessoas da nossa intimidade; maridos, namorados, colegas ou familiares.
Ao serem atacadas frontalmente pelo governo Bolsonaro, que esfacela a democracia e enaltece a ditadura também como forma de silenciar as vozes feministas, as mulheres novamente se tornaram protagonistas da luta contra o retrocesso e em defesa dos direitos. Prova disso foi esse 8 de março – Dia Internacional das Mulheres.
“Nós estamos furiosas com aqueles que retiram nossos direitos, com aqueles que estão no comando e nos matam porque nós nunca nos calamos, e por isso eles ousam tirar as nossas vidas, a nossa voz; acabar com a democracia”, disse a trabalhadora rural Carmem Foro, secretária-geral da CUT Brasil, no ato do 8 de março no Distrito Federal.
De acordo com a dirigente sindical, as mulheres brasileiras estão “pavimentando um caminho para um futuro de luta” e são a “ponta de lança da resistência do nosso país”.
A fala da trabalhadora rural tem como respaldo as manifestações realizadas neste 8 de março em todo Brasil. Em vários estados, mulheres foram às ruas com gritos de “Fora Bolsonaro”, contra o feminicídio e todo tipo de agressão, por justiça para Marielle, pela legalização do aborto, por salários iguais aos dos homens, por participação efetiva nos espaços de poder. Elas também marcharam por pautas amplas, como a defesa dos serviços públicos, contra a privatização, contra a precarização das relações de trabalho e todo o desmonte de Estado conduzido por uma política avessa ao interesse do povo.
>> Por que tentam embaralhar as origens do 8 de março?
No Distrito Federal, trabalhadoras rurais de todo Brasil, que realizam o 1º Encontro Nacional de Mulheres do MST, se somaram à manifestação do 8 de março. Juntas, mulheres do campo e da cidade repudiaram o governo federal e também protestaram contra o governo de Ibaneis Rocha, que segue à risca a cartilha machista e misógina bolsonarista.
Entre as ações do governador, está o embarreiramento do andamento da Comissão Parlamentar de Inquérito criada em novembro de 2019 para investigar os casos de feminicídio no DF, onde em pouco mais de um ano 40 mulheres foram assassinadas pelo simples fato de serem mulheres.
“Hoje é o pontapé inicial para uma jornada de lutas que temos neste mês de março, que culminará no Ato Unificado em Defesa dos Serviços Públicos, por Emprego, Direitos e Democracia, agendado para dia 18 de março. A política de Estado mínimo, de sucateamento dos serviços públicos, prejudica toda sociedade, mas principalmente as mulheres, que em um sistema patriarcal e capitalista são as responsáveis por cuidados como matricular os filhos em escolas públicas, levar familiares adoecidos aos hospitais públicos, acessar a justiça pública em casos diversos. Estamos nas ruas e não vamos nos calar. Marcharemos até que todas nós sejamos livres”, afirma a servidora pública Ana Paula Cusinato, secretária de Comunicação da CUT-DF.
Somos muitas
Às 7h desse domingo (8/3), mulheres trabalhadoras rurais já haviam iniciado seus cantos e místicas no 1º Encontro Nacional de Mulheres do MST, realizado no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. “Erguidas como muralha”, como diz o manifesto das trabalhadoras, elas se preparavam para o trajeto da marcha por democracia, pela vida de todas as mulheres, contra o racismo, o machismo e o patriarcado.
Para dona Teresinha Sabino, que completou 64 anos nesse 8 de março, a data histórica sempre foi marcada pela luta, mas tem significado especial neste ano. “As coisas têm piorado muito para as mulheres no geral, principalmente para as mulheres trabalhadoras rurais, no que tange à perda de direitos. E este 8 de março representa o ápice da luta para que nós possamos combater o machismo, o patriarcado, que vem de um governo fascista, um governo capitalista, que só pensa no crescimento de um pequeno grupo que é dele e dos filhos dele”.
Integrante do MST há 25 anos, dona Teresinha é do assentamento Asiel Alves Ferreira, em Governador Valadares (MG). Ela, que entrou no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra pela necessidade de plantar para sustentar a si e os sete filhos, afirma que as mulheres são capazes de mudar a conjuntura cruel hoje estabelecida. “Nós mulheres somos mais da metade da população e ainda somos mãe da outra metade”, analisa.
Por volta das 9h30, dona Teresinha e milhares de mulheres do campo e da cidade iniciaram a marcha, que seguiu rumo ao Palácio do Buriti ao som de gritos de protesto, performances, fanfarras, batuques que funcionam como uma forma de combustível para desalentados políticos.
Na sede do governo local, foram hasteados cartazes com o nome das 40 vítimas de feminicídio do DF, além de denunciado o pouco caso que o GDF vem fazendo com a vida das mulheres.
De lá, elas seguiram para a Torre de TV, onde foram realizadas as falações finais do ato desse 8 de março.
Basta
A taxa de feminicídio do Brasil é a 5ª maior do mundo. Aqui, a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada. A cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas e três em cada cinco mulheres já sofreram violência em relacionamentos. No Brasil, 43% das agressões ocorrem dentro dos lares das vítimas, sendo que em 80% dos casos o parceiro é o agressor. E mesmo sendo no mínimo inaceitável este cenário, 68% das mulheres evitam denunciar seu agressor por medo.
Embora os números alarmantes, nos últimos anos, o orçamento da Secretaria da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos foi reduzido em 95%. Coordenada pela pastora evangélica Damares Alves, conhecida justamente por atacar os direitos das mulheres, a desidratação orçamentária da pasta vem ocasionando o fim de vários programas de enfrentamento à violência contra as mulheres.
Fonte: Vanessa Galassi, da CUT-DF | Fotos: Valcir Araújo e Vanessa Galassi